Corrijo: É sempre bom comer a papinha!
Eram Zoaira e Imena quem disputava Randulfo, ao mesmo tempo que engraçavam o moleiro, trauteando suas cantigas brejeiras em jeito meneador de amores, mas provocador. Só assim era por saber o destempero que destolhava em Randulfo com tais proclamações. Randulfo não esquecia, porém, o trabalho que lhe destinara o cónego. Faria as vezes de copista na crónica que o benfeitor escrevia, narrativa das conquistas d'el-rei Alfonso sobre os sarracenos nas zonas do Tejo.
A difícil escolha que (não) lhe cabia no coração adida a propósitos que à sensação, e apenas sensação ou não tivesse ele tratado de manter o devido secretismo, de outros nada de bom auguravam, privavam-no da totalidade da sua concentração no exercer dos serviços a que se prestava, nomeadamente os de copista. Pesava, portanto, no cónego, a desconfiança de tais propósitos e urgia que descobrisse o que abordavam. Não só pelos serviços em si, legado que tencionava deixar a quem o quisesse, mas pelo rumo que temia levar a vida do pobre homem.
Numa soalheira tarde em que ambos laboravam na dita crónica e as mulheres faziam a lida, uma pedra trespassa a linha de olhar que mantinham entre os dois, sentados à mesa da copa. O cónego levantou-se de um pulo. Randulfo se manteve impávido. Como que esperando. Daí a pouco gargarejou num berro de desespero a voz do moleiro, sonindo aprisionada na garganta, obstruída por uma maleita que se afigurava desgraça. O cónego entendeu por fim a passividade de Randulfo perante tão súbito incidente e, lúgubre, olhando pela janela, viu o moleiro, tombando, fenecer.
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