Saturday, May 05, 2007

Henry (le-se com sotaque ingles)

Henry é um amigo meu. De vós, dos que também o são, muitos podereis não o conhecer pois é austríaco, de Viena.
Henry é um rapaz bem-parecido, alto e de cabelo sempre aparadinho, extremamente inteligente e muito forte, esta última muito fruto das valentes horas que passa no ginásio a puxar ferro. Arrisco-me até a dizer que, no que toca ao ginásio Henry é um ‘zaca-zaca’. Henry tem apenas um defeito: é vaidoso como Narciso e portanto, as horas que passa no ginásio dividem-se numa proporção de 40-60, sendo as primeiras para o treino assim chamado e o resto do tempo para olhar seu esculpido corpo no espelho. Ora contrai os bíceps, ora peitorais, ora contrai ambos flectindo um pouco as costas para a frente e desenhando um arco com os braços, com as mãos apoiadas nas coxas. Isto fá-lo sempre apontado com os indicadores de ambas as mãos o musculo especifico que deseja expor naquele momento, não vá acontecer passar alguém que não esteja a par do ritual de Henry, que logo fica esclarecido.
Há não muito tempo Henry veio a Portugal visitar-me e mal chegou vi logo diferenças na sua maneira de ser, ainda antes de falarmos. Quando lhe perguntei aonde iria ficar instalado, Henry disse-me que conhecia um museu aqui perto aonde costumava ficar. Esta humildade deste rapaz sempre me surpreendeu; claro que lhe ofereci minha casa, que a custo lá aceitou.
Foi este facto que me permitiu notar e contar aquilo que vou contar. É que com Henry vivendo em minha casa pude observar seus hábitos mais de perto. Como disse a sua diferença de personalidade era notória. Henry andava sempre deprimido, cabisbaixo e pouco falador, e sempre com uma estranha bisnaga de leite condensado, que punha constantemente nos lábios. Perguntei-lhe se era de desgosto amoroso, mas garantiu-me que não só tinha ainda a namorada belga que sempre tivera, como tinha ainda uma outra rapariga que era apaixonada por ele, mas que segundo ele tinha um sentido de humor muito estranho. Perguntei-lhe então se seria dos estudos, sabendo já que a resposta seria negativa. ‘Não, é bem mais complicado que isso tudo..’ respondeu ele. Contou-me então que desde que lhe apareceram 4 borbulhas na cara, a imagem que via no espelho já não o deixava orgulhoso como outrora sempre o deixara e que portanto começara a tomar um remédio feito à base de proteína de cavalo, cujos efeitos secundários incluíam diarreia, indisposição geral e depressão com tendências suicidas.. Dizia-me ele que era tão grave a depressão que tinha quando tomava o remédio como a depressão que tinha quando se olhava no espelho e via aquelas malvadas borbulhas estragarem-lhe a imagem que se prostrava. Mas eu sabia que não.. Henry era o amigo que eu conhecia quando não tomava as malditas pílulas; seu humor voltava, sua boa disposição iluminava uma sala. Henry ria a bandeiras despregadas. Eu apenas sorria...

2 comments:

cegah said...

Henry faleceu faz hoje três dias na Amesterdão das Holandas. Tomou cogumelos e viu-se como uma enorme borbulha cheia de pus amarelo esverdeado, que imediatamente quis espremer entre dois autocarros que passasem.
Obrigado Henry, pelos momentos zaca-zaca mas tão cheios de humildade a que nos habituaste.

Mesmo em agonia,
Encheste este mundo de alegria.

Anonymous said...

henry é pedro!
FPS