Armindo
Já que falamos de comida proponho-me a partilhar um novo conceito de restaurante com o leitor.
Recentemente — hoje, precisando — fui jantar a um restaurante japonês. ‘O que tem de particular esse restaurante?’ perguntarão vocês. Não sei porque foi a único a que alguma vez fui.
É composto por várias mesas de duas pessoas, dispostas ao longo de uma parede, e por uma maioria de mesas semi-circundantes de uma chapa. Como em todos os restaurantes japoneses, servem sushi e outras variedades desse peixe cru (e isto é aqui é pura suposição!), mas a grande atracção é o que se faz nas chapas. Depois de se escolher de uma variedade de menus, que podem incluir lombo de vaca, peixe, legumes e gambas comparáveis em tamanho e suculência ao braço duma criança de apenas poucos meses, apresenta-se um chef japoinas, todo quitado com faixas à Ryu do Street Fighter e com uma cinta de meia dúzia de facas. Estranho é que o gajo só usa as facas três vezes. De resto, o menino maneja duas espátulas com as quais executa todo o tipo de acrobacias e até mete o pimenteiro, que é daqueles de madeira, e o saleiro à mistura, tudo com grande precisão.
A meio jantar e, bebericando a minha Sapporo, comecei a imaginar o que seria estar exactamente naquela mesa mas num ambiente totalmente diferente. Imaginava uma tasca com um balcão de mármore à entrada e com azulejos na parede coberta de fotografias do clube local e cachecóis dos grandes dos gloriosos anos 80. Na minha frente prostrar-se-ia um gajo gordo de bigode e palito, com um boné do glorioso, daqueles de pala recta, engomada e com uma camisa aberta a cobrir uma camisola branca de alças com três grandes nódoas do que seria provavelmente molho de um qualquer dos seus cozinhados.
Imaginei depois duas situações totalmente distintas:
- Uma primeira em que ele seria um desastrado no seu mester e, tentando impressionar os clientes tentaria as mesmas habilidades que havia visto do lado de fora de uma montra de um restaurante japonês. Não só não as conseguiria executar como ainda por cima atiraria o pimenteiro em direcção à cabeça da pessoa directamente à sua frente. Numa tentativa de evitar o pior lançar-se-ia em direcção a esta, queimando 90% da sua enorme barriga, a ponta dos seus peludos mamilos e a palma da mão na chapa, acabando por lesar gravemente a senhora.
- Na segunda, o senhor mantém o seu aspecto de verdadeiro tuga mas tem uma habilidade de mãos inacreditável e não falha nenhum dos seus espectaculares movimentos. Imaginei-o a fazer uma carne de porco à alentejana apenas com as duas espátulas e o uso esporádico de uma das suas facas, talvez para abrir as amêijoas. Até as batatas ele descascaria com as espátulas. Adicionando no fim os coentros com uma pirueta, estaria ali um prato tipicamente português com um toque pessoal dado pelo Armindo.
Dir-me-ão vocês ‘Mas isso é uma estupidez de todo o tamanho!’, ao que eu respondo ‘Estúpidos são vocês!’.
