Historias da nossa terra
Há coisa de dois dias conheci o Ernesto.
Estava no Aeroporto de Zurich à espera do avião que se atrasou uma hora e tive o privilégio de conhecer inúmeros portugueses emigrantes também eles à espera do avião que por enorme coincidência não era senão o mesmo que o meu.
Vinte minutos antes da abertura das portas gerou-se a habitual fila de portugueses que dava já a volta ao centro histórico de Zurich. Ainda hoje me pergunto porque gostam tanto os portugueses de esperar em pé antes das portas se abrirem; julgo porém que é para o caso da televisão aparecer entrevistando um ou outro e para que assim haja legitimidade em dizer:
- "Vá lá o senhor ver que tou aqui vai pa três quartos de hora em pé à espera! Isto os aviões portugueses são uma vergonha! Nenhuma outra porta tem malta à espera com'aqui, tinha que ser neste país c'um raio!"
Felizmente não apareceu a televisão!
Mas estava lá o Ernesto!
O Ernesto é um tipo bonacheirão com bochechas rosadas pelo sol dos Alpes em jeito de mancha vermelhusca rendilhada prensada no branquinho níveo de sua pele. Magro, mãos nos bolsos do casaco, costas curvadas para a frente, pescoço pendurado como quem procura a corcundice prematura, Ersnesto vageava para lá e para cá sem destino mas sem nunca se afastar demasiado de seus pais, pois que tal pode ser perigoso num jovem que ultrapassa a tenra idade dos dezassete anos.
Eu olhava Ernesto encostado ao meu canto, vendo-o indo para lá e para cá da bicha parada (é incrível como os aviões portugueses nos deixam sempre à espera!) e desmascarava divertido o esforço daquele jovem em estágio pré-rufia em produzir um ar maldoso debaixo do seu boné branco com caveiras pretas, das suas calças estupidamente largas e da sua camisa à lenhador escondida pelo casaco cinzento com pelo de carneiro. Tentava um ar de quem já de tudo fez na vida mas que ainda muito mais pode fazer e assim Ernesto estava orgulhoso de si mesmo.
Não sabia porém que entretanto fedia a mimo, bolicau, playstation, magic cards, dragon ball, salsichas Nobre Junior e bolhachas Oreo mergulhadas em leitinho meio gordo.
Ernesto pode ser só um jovem, mas para mim ele tem já 17 anos e quasi-certa probabilidade de ser só mais um 'Emigra' estúpido que em tempos veremos falar p'ra 'têvê' a propósito das filas de espera para os aviões da TAP derivadas da (in)competência das autoridades competentes.
Adeus Ernesto, boa sorte para a tua vida. Espero que a chouriça tenha chegado em condições a São Jorge de Bardujo!
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